terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Do planeta dos macacos às comunidades virtuais



O ponto de partida deste livro é uma definição, muito simples, para o fenômeno social da comunicação:
"A troca de sentidos, por meio da fala, entre seres humanos". (1)

Ao empregar esta definição, o que em geral me vem à mente são seres humanos primitivos, vivendo em comunidades rudimentares, e que há pouco cruzaram a fronteira mágica da evolução das espécies. Que sensação maravilhosa deve ter sido aquela, da primeira troca de sentidos por meio da fala, da possibilidade do diálogo, que poderia vir como substituto da força na nova relação de poder que então se estabelecia no seio daquela espécie superior. Espécie fadada a exercer por milênios
seu domínio sobre a vida na Terra.

Vou buscar no cinema, essa forma de comunicação precursora da civilização das imagens dos dias de hoje, dois exemplos capazes de ilustrar com invulgar clareza, acredito, a habilidade da fala como a marca definitiva da nossa humanidade.

Na seqüência inicial do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, (2) realizado a partir da imaginação criadora de Arthur C. Clarke, uma comunidade de símios experimenta pela primeira vez os prenúncios da humanidade que se avizinhava quando dois de seus membros engajam-se em uma luta, entrecortada por grunhidos e golpes, até o desfecho
dramático em que um deles se apossa de uma tíbia descarnada jogada no chão e, com ela, desfecha golpes mortais em seu adversário. A imagem da tíbia atirada ao ar pelo símio vitorioso, girando suave e sendo substituída na tela pelo giro portentoso da estação espacial, ao som da valsa Danúbio Azul, é talvez a síntese mais perfeita já feita pela arte do salto descomunal dado pelo homem na direção do desconhecido.

Mas, se no gesto instintivo do símio que destrói o inimigo com a primeira arma criada na história está a gênese, talvez, das conquistas do homem sobre a natureza, é pelo uso absurdo das armas que, em outra obra antológica do cinema de ficção científica, O Planeta dos Macacos, (3) o homem perde a sua humanidade ao ser privado justamente da fala. Ele é, então, remetido ao futuro, como besta sem alma, agora escravo de símios pacíficos e dotados de fala, metáfora poderosa que tenta repor o discurso da razão humanística como o único móvel capaz de assegurar a nossa
existência em paz sobre a Terra.

A fala é, portanto, a projeção primeira da razão como faculdade fundamental da criatura humana, o alimento perene de todas as energias utópicas, aquelas que entendo como as únicas capazes de levar o homem a enfrentar sem temor as ironias da história. A fala, porém, acabaria por somar-se à força como instrumento de dominação do homem pelo homem. A fala dos mais velhos, a fala dos mais sábios, a fala dos mais brutos, a fala sutil do mais moço e mais fraco que aprendeu a contrapor a esperteza à sabedoria e à força bruta.

A essa fala, que se movia com o vento, somou-se depois outra: a fala dos signos perenes, as representações que dariam sentido gráfico à vida, nas paredes das cavernas, sobre as pedras, no couro dos animais, assumindo progressivamente a forma cada vez mais sofisticada da fala escrita. Assim, a cada passo que dava o homem em sua história, lá estava a comunicação como elemento determinante da sua essência mais vital.

Dos gregos, por exemplo, herdamos a dialética, e os diálogos socráticos eternizados pela escrita de Platão; dos gregos veio também a retórica, a arte da fala para as multidões, arma fundamental para a vida na pólis e para o exercício da então recém-descoberta política.

Da idade média nos vêm as imagens dos arautos, cujas trombetas antecipavam as notícias da época; época também das poesias e das trovas, da mitologia do bom ladrão, a tirar dos ricos para dar aos pobres, Robin Hood utópico que encontra eco, ainda que distorcido, nos dias de hoje, na vida dos bandidos que fazem a lei nas favelas dos morros cariocas, versões modernas, e cruéis, da Floresta de Sherwood.
Umberto Eco, um dos estudiosos da comunicação na contemporaneidade, incrustou no coração do seu hoje já clássico romance, O Nome da Rosa, uma biblioteca em forma de labirinto, a simbolizar ali o enorme poder revestido sobre aqueles a quem o destino reserva a capacidade de controlar o fluxo da informação nas sociedades.(4)

O mundo, porém, tanto da idade antiga quanto da idade média, era, para os homens e as mulheres daqueles tempos, um mundo pequeno, circunscrito quase que exclusivamente a suas experiências sensoriais imediatas: 'Só reconheço o que vejo com esses meus olhos, o que posso tocar com minhas mãos, o que ouço com meus próprios ouvidos'.

Aquele mundo era um mundo quase sem mediações, sem os meios que fizessem chegar às pessoas sensações que não aquelas vividas na sua própria aldeia, ou burgo, ou vila, ou comunidade, não importa como denominemos hoje os aglomerados humanos de então.
Esse mundo, entretanto, logo se alargaria, movido por uma força que começava a brotar no homem, de estender para horizontes cada vez mais distantes as suas possibilidades de comerciar, esse modo novo de relação econômica, política e cultural que se estabelecia entre os homens e as mulheres da época; os novos mercados, de burgueses, passavam já a não mais caber nos limites estreitos do mundo conhecido daqueles tempos de antão.

Do século XIII ao XVI, ocorreu o auge da expansão do novo modo de produção capitalista, que ia, na sua fase chamada de mercantil, ampliando de forma extraordinária as fronteiras de um mundo que desatava a flertar com o que viria a ser chamado de Modernidade. Esta foi a época do "ciclo das navegações"; cujo feito maior completou no ano de 1992 o seu quinto centenário - a chegada de Cristóvão Colombo ao novo mundo, que ficaria conhecido como América. Novo mundo a que se incorporaria, alguns anos depois, em 22 de abril de 1500, a terra encontrada por Pedro Álvares Cabral e seus marinheiros portugueses, a que receberia depois o nome de
Brasil. É nesse período que a comunicação começa a passar por uma inflexão decisiva para o seu desenvolvimento futuro, que iria redundar, num primeiro momento, no surgimento do que hoje chamamos de imprensa, a primeira manifestação histórica dos modernos meios de comunicação de massa. Antes de seguir, porém, na direção do surgimento histórico e posterior desenvolvimento da imprensa, abre-se aqui espaço para uma breve digressão, para se destacar que, usualmente, nos livros de história, a
"invenção" da imprensa é atribuída a Johann Gutenberg. O criativo tipógrafo alemão foi, entretanto, na realidade, apenas o inventor da prensa de tipos móveis, por volta de 1440, a qual possibilitaria a partir daí o aparecimento de uma literatura de "massa", ou seja, a produção em um número cada vez maior, para um público cada vez maior, de obras impressas, a primeira delas sendo uma edição histórica da Bíblia,
possivelmente em 1450.

Verdade é que desde a Idade Média os chineses já davam notável contribuição para as técnicas e a arte da impressão, eles próprios tendo inventado o papel no século primeiro de nossa era. Em 868 D.C., Wang Chieh publicou um livro impresso a partir de gravação em blocos de pedra, cópias dele sobrevivendo até hoje como o livro mais antigo da história da humanidade. O primeiro uso conhecido de tipos móveis vem também de um chinês, Pi Sheng, ao redor de 1045; já a gazeta da corte de Pequim
estabeleceu um recorde para publicação contínua, circulando por mais de
1000 anos, para desaparecer em 1911.

Em outras palavras, o ocidente tende a se ver sempre no centro do mundo, e dependendo de descobertas geniais de indivíduos isolados, quando, na realidade, a história é um processo muito mais complexo, levado a cabo por seres humanos individualmente e como membros de classes, numa fascinante mistura entre sul e norte, ocidente e oriente, aqui a China aparecendo sempre como um dos mais fascinantes exemplos de civilização e cultura milenares. Mas, feita a digressão, retoma-se o caminho do ciclo das navegações para assinalar, nele, o surgimento do primeiro grande meio de comunicação de base técnica; a imprensa. Aquele mundo em expansão, entre os séculos XIII e XVI, trouxe consigo a necessidade de uma grande circulação de informações, acompanhando a própria circulação das mercadorias entre o velho e os novos mundos que surgiam. Eram informações relativas a portos, sua
localização e calagem, por exemplo; ou relativas a preços de especiarias, além de outros assuntos do interesse corporativo daqueles que mercadejavam celeremente naquela época. Informações que viriam a se constituir, então, em sistemas de correspondência aos quais, pouco a pouco, foram sendo acrescentadas curiosidades sobre terras distantes, sobre acidentes climáticos, sobre a vida nas cortes, essas cartas tornando-se os embriões daquilo que viriam a ser os primeiros jornais periódicos que o ocidente conheceria a partir do século XVII. Esses periódicos assumiriam inicialmente a forma de uma imprensa literária, por meio da qual a burguesia em ascensão revolucionária daria vazão, primeiro, à sua subjetividade enquanto classe de indivíduos capazes de amar, de odiar, de exprimir os mais diversos sentimentos, para em seguida manifestar a subjetividade política de indivíduos sequiosos de decidir seus próprios destinos, donos de opiniões claras sobre a liberdade e a igualdade, que contrapunham às verdades secularmente estabelecidas das aristocracias em processo de cada vez mais visível decadência existencial e política. Esses burgueses agora assumidamente revolucionários
encontrariam seus canais preferenciais de expressão nos salões, nos cafés, nas sociedades de comensais, principalmente na França e na Inglaterra, neles configurando uma esfera pública política capaz de dar guarida ao mais amplo debate possível à época, em oposição à intransparência que caracterizava o espaço dos monarcas, seus nobres e funcionários que dominavam então os aparelho do Estado absolutista.(5)

Na medida em que essa esfera pública política se ampliava, as idéias que circulavam entre os cafés e salões, olho no olho, em contatos interpessoais, passaram a circular também, e preferencialmente, numa imprensa literária transformada em imprensa de opinião, formada pelos mais diversos periódicos e panfletos, cada qual refletindo os anseios de uma determinada facção.

A fala, pela imprensa, a fala política das idéias iluministas foi o fermento decisivo das revoluções burguesas que impuseram ao mundo no século XVIII o domínio de uma nova classe, estampado nas novas instituições democráticas que iriam substituir progressivamente o poder absoluto dos reis: a república, os parlamentos eleitos, os judiciários independentes, o presidencialismo convivendo com monarquias de fachada da Europa à América do Norte.

Estados Unidos, França, Inglaterra - impunham-se definitivamente essas sociedades em estado frenético de modernização, já começando a experimentar os efeitos de uma nova revolução, não mais apenas de idéias, mas impregnada dos efeitos técnicos, econômicos, políticos e culturais decorrentes da consolidação do capitalismo como o sucessor definitivo da economia feudal: a revolução industrial do século XIX.

Sobre a imprensa, os efeitos dessa revolução não poderiam ter sido mais radicais. De um lado, os avanços da técnica permitiam que as velhas prensas manuais fossem sendo substituídas por prensas mecânicas a vapor, capazes de imprimir os exemplares dos jornais, em quantidades maiores a velocidades cada vez maiores. Do outro, o crescimento rápido dos mercados acelerava o correspondente processo de urbanização, as cidades do centro do capitalismo crescendo em número de habitantes, consumidores potenciais das mercadorias postas à sua disposição pelas manufaturas e pelo comércio: remédios, roupas, implementos agrícolas, utensílios domésticos.

É dessa dialética social que emerge, então, a partir dos anos 30 do século XIX um novo tipo de imprensa, movida por uma lógica muito diversa daquela que movia a imprensa política da burguesia revolucionária. O marco dessa grande transformação da imprensa, que já ia lhe dar os contornos de uma nascente indústria cultural, foi um jornal chamado The New York Sun, que circulou pela primeira vez nas ruas da grande cidade norte-americana em 3 de setembro de 1833. A marca desse jornal era o seu
preço: 1 penny, ou seja, 1 centavo de dólar, contra os 10 ou 15 centavos que habitualmente custavam aos leitores, ou assinantes, os jornais da imprensa de opinião.

The New York Sun foi, assim, a ponta de lança do que ficou conhecido como a revolução da penny press, cuja lógica era a mais simples possível. A sociedade democrática de mercado se consolidava, particularmente nos Estados Unidos, e o público leitor estava agora atrás de um novo tipo de informação; uma informação mais próxima do seu cotidiano, que contasse os dramas do cidadão comum, as ocorrências nos
distritos policiais, o dia a dia nos parlamentos. Mais importante ainda, surgia um novo tipo de informação, a publicitária. Industriais e comerciantes tinham naquele veículo o meio ideal para aumentar os possíveis compradores de seus produtos. Assim, ao dono do jornal era mais negócio vender leitores para os seus anunciantes, do que velhas opiniões para os seus leitores. E ele agora dispunha dos meios técnicos para
aumentar consideravelmente as suas tiragens, atraindo com elas os anunciantes, o que barateava os custos da impressão do jornal, que podia ser vendido por apenas 1 penny, o que fazia aumentar as suas tiragens, o que atraía mais anunciantes, e assim por diante. Nascia a comunicação de massa.

De centenas de exemplares iniciais, o Sun passou para 5.000 exemplares diários em 1834, e para 15.000 exemplares em 1836, no que foi acompanhado por dezenas de outros jornais nas principais cidades norteamericanas, desenvolvimento semelhantes ocorrendo nos países centrais da Europa. Nos Estados Unidos, em 1896, pouco mais de 50 anos do início da penny press, o jornal The World, de Nova Iorque, criado pelo magnata William Randolph Hearst - inspirador do personagem Cidadão Kane do filme genial de Orson Welles -, e o New York Journal, do imigrante húngaro feito milionário, Joseph Pulitzer, disputaram uma emocionante guerra de tiragens, à base do noticiário mais sensacionalista, o primeiro chegando a 600.000 exemplares diários, contra 430.000 do jornal de Pulitzer.(6)

A penny press foi, enfim, a primeira grande amplificação da fala do homem na história, resultando na imprensa de massa do fim do século XIX. Mas, essa amplificação veio acompanhada de outros desenvolvimentos técnicos consideráveis no campo das comunicações.

Em 1844 ecoava na Inglaterra, como resultado dos trabalhos científicos de Samuel Morse e Sir Charles Wheatstone, a primeira mensagem telegráfica pública. É mais ou menos dessa época a invenção, por Thomas Edison, do gramofone, a possibilidade de reprodutibilidade técnica da voz. Antes, em 1839, um francês, de nome Daguèrre, inventara a reprodutibilidade técnica da imagem, pela fotogravura, ou fotografia. Já em 1857 circulavam mensagens entre a Europa e a América pelo primeiro cabo telegráfico submarino. Pouco depois, em 1876, Graham Bell emitia a primeira
mensagem telefônica por fio; 19 anos depois, em 1895, Marconi e Popoff
propagavam mensagens telefônicas sem fio. Mas, é a partir de 1895, com o surgimento do cinema, da imagem em movimento; e de 1906, quando Fessender difunde a voz humana pelas ondas radio-elétricas, que a fala do homem iria passar talvez pela sua mais
radical inflexão desde a invenção da escrita. O cinema e o rádio foram marcas determinantes dos primeiros 30 anos do século XX, assumindo, a partir dos Estados Unidos, a forma progressiva da mais penetrante indústria da nossa era - a indústria cultural, de bens simbólicos cada vez mais influentes e sofisticados, responsável por uma nova sociabilidade, causando profundas transformações nas noções contemporâneas de tempo e espaço, alterando as relações humanas entre indivíduos, as relações entre indivíduos na família, mudando as formas clássicas de se fazer política, influindo nas ações nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial;
transformando a comunicação, enfim, no mais incisivo fenômeno cultural,
político e econômico do mundo contemporâneo.

Essas enormes transformações iriam encontrar o seu meio síntese a partir de 1923, com a invenção de um novo aparelho, nem bem rádio, nem bem cinema, mas potencializando os defeitos e as virtudes de ambas essas invenções. O surgimento da televisão, que começaria a ganhar os lares norte-americanos em 1947, é o grande momento de amplificação da fala humana no século XX. Depois dela, mais do que em outras passagens da história, a humanidade nunca mais seria a mesma.

O entretenimento mais saboroso, na sala da própria casa. O folhetim eletrônico, na forma das soap-operas, das óperas de sabão, ou novelas vindas do rádio e assim chamadas por serem invariavelmente patrocinadas por fabricantes de sabão ou sabonete, e que iriam encontrar, paradoxalmente, na segunda metade do século, a sua forma mais bem acabada nas telenovelas brasileiras. A informação instantânea do rádio
ganharia, literalmente, a vivacidade das imagens, em tempo real, nos anos 60, depois que o homem pôs no ar o primeiro satélite de comunicações, o Early Bird, o Pássaro Madrugador. Graças a ele, parte considerável da humanidade experimentaria a emoção, quase, indescritível da transmissão ao vivo, em 1969, da chegada do homem na lua, desvirginando e desmitificando nosso satélite natural, inspiração milenar dos poetas e dos amantes.

Comunicação, telecomunicações, comunicações - a capacidade sempre maior da humanidade superar tecnicamente as distâncias. A esta capacidade começaria a se juntar, nas décadas de 40 e 50, um outro fenômeno eletrônico, a computação, a possibilidade, primeiro, de realizarmos cálculos complicados em tempos extremamente curtos, e, segundo, a possibilidade de armazenarmos incríveis quantidades de informação, capazes de retornar a nós em frações de segundos. O homem criava o primeiro "cérebro eletrônico", uma poderosa extensão das suas faculdade mais vitais.

O computador, tal como o próprio rádio e a televisão, experimentaria, dos anos 60 em diante, enormes saltos tecnológicos, em intervalos de tempo cada vez menores, por conta de um outro tipo de revolução, a da microeletrônica, que permitiria a miniaturização de circuitos, peças e componentes, cuja primeira manifestação foram os minúsculos rádios de pilha japoneses e entre cujas manifestações atuais mais significativas estão os microcomputadores pessoais, como os desktops e laptops com a ajuda dos quais foi escrito este livro.

Com o computador, a digitalização progressiva de todos os tipos de informação, inicialmente para limpar ruídos e corrigir erros, melhorando a qualidade das transmissões; depois para melhor processar e distribuir as informações, juntando voz, dados, sons, imagens e textos em seqüências numéricas, alternando 0s e 1s, consolidando uma nova e poderosa forma de comunicação.

A humanidade chega, enfim, ao limiar do século XXI, experimentando amostras do que convencionou chamar de revolução das comunicações, fundada na convergência dessas três plataformas tecnológicas, suas aplicações e conteúdos: as telecomunicações, os meios de comunicação de massa, e a informática.

Internet, World Wide Web, correio eletrônico, sites e home pages, televisão digital, DVDs, áudio e vídeo digais de alta definição. Mercados eletrônicos, dinheiros imateriais, consumidores concretos de realidades virtuais. Redes digitais de banda larga - de fibras ópticas, pelo espectro radioelétrico, na atmosfera - transportando sinais de multimídia - imagens, sons, voz, textos e dados - para terminais domésticos que são um pouco computador, um pouco televisão, um pouco máquina copiadora, um pouco telefonia, cada pouco desse potencializando a extensão da capacidade humana de trocar sentidos por meio da fala, agora também uma fala
sentidamente eletrônica.

Essa fala eletronicamente amplificada, para limites nunca dantes imaginados, não tem, entretanto, contribuído significativamente para a constituição de uma aldeia global sentidamente mais democrática.

Vivemos ainda sob as influências das revoluções burguesas, as idéias que transitam pelo mundo da política e da economia são ainda idéias gestadas em meio à luta contra o absolutismo, alimentadas pela fé iluminista, circunscritas aos limites da razão moderna. No entanto, ou talvez por isso, a troca de sentidos, por meio da fala, entre seres humanos, é ainda regida, em grande parte, pela lógica do símio que destrói o adversário com a força da arma.

Aprofundar a democracia, aprofundando a liberdade da comunicação, e das comunicações, é o fio que conduz, afasta e aproxima, os textos que vêm a seguir.

E que começam por nos lembrar dos tempos ainda não muito distantes da ditadura militar.

1 A definição foi desenvolvida para este texto, utilizado pelo autor como sua aula inicial da disciplina Comunicação Comparada, no Curso de Comunicação da Universidade de Brasília.
2 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968). Direção: Stanley Kubrick. Baseado no conto The Sentinel, de Arthur C. Clarke. Roteiro de Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick.
3 O Planeta dos Macacos (1968). Direção de Franklin J. Schaffner. Basseado em romance do Pierre Boulle. Roteiro de Michael Wilson e Rod Serling.
4 Umberto Eco, O Nome da Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
5 Sobre a emergência da esfera pública, seus antecedentes e conseqüências, ver a obra clássica de Jürgen
Habermas, Mudança Estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: 1985.
6 Ver Emery, Edwin e Emery, Michael. The Press and America - An interpretative history of the
Mass Media. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, Inc., 1978 (4th edition).