
McLuhan pensava “os meios de comunicação como extensão do homem”, dizia que “qualquer pessoa pode hoje tornar-se autor e editor”, classificava a notícia, mais do que arte, como artefato. Avisara que “a nova interdependência eletrônica recria o mundo à imagem de uma aldeia global”, uma profecia que ganha outra dimensão com as tecnologias de informação e comunicação, e sua realidade virtual, cada vez mais presente em nossa cultura-mundo (Gilles Lipovetsky e Jean Serroy).
Assim como não é possível entender Marx sem os marxistas, dedico-me aos autores declaradamente McLuhanianos, como Henry Jenkins. “Em nome do ‘progresso’, a cultura dominante se esforça para obrigar os novos meios a realizarem tarefas do passado”, uma frase-síntese do pensador canadense para explicar a força propositiva de Cultura da Convergência.
O Homo sapiens tornou-se Homo ecranis“, afirmam Lipovetsky e Serroy. “Daí em diante ele nasce, vive, trabalha, ama, se diverte, viaja, envelhece e morre acompanhado, em todos os lugares por onde passa, por telas….
A era cem por cento tela não revela apenas uma quantidade ilimitada de imagens e de informações contínuas em uma multidão de novos suportes; ela vem acompanhada por uma comunicação interativa e produzida pelos próprios indivíduos. O ato I da telas era o das mass media, da comunicação unilateral e centralizada; o ato II é o da self media, das trocas interpessoais e comunitárias, descentralizadas e baseadas na utilização da Rede. Daí em diante, o modelo vertical da cultura midiática é simultaneamente um modelo horizontal, de uma cultura do todos para todos.

O “Eu Mídia” é a síntese da manifestação narcísica da cultura do consumo e do espetáculo exarcebada pelo realismo fanstástico do second life. “Deixe para trás aquele que você era”, diz um comercial televisivo. No second life do Facebook, do Twitter e do YouTube você pode ser apenas “quem você deseja ser”.

As pesquisas sobre fluxo informacional das redes denunciam a enorme predominância dos “me-informers” sobre os “informers”. De que vale ser mídia se o único assunto é apenas você mesmo? Chamo isso de síndrome de Ashton Kutcher (@aplusk), o ator hollywoodiano que transformou sua vida num roteiro de reality show via twitter, com mais de 7 milhões de seguidores.

Mas há a outra moeda do “Eu Mídia”. Aquele papel exercido nos tempos remotos da mídia impressa liberal, com jornalistas independentes, que ousavam contar suas histórias e cativar leitores com sua credibilidade. Se a cultura da convergência permite o surgimento e a sustentabilidade desse outro tipo de “Eu Mídia”, então seria a revolução dos meios e a transformação dos fins.
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