quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Arte, a Construção e a Ciência da Estratégia Corporativa - Henry Mintzberg

O estilo americano de administração está descarrilado e esse é um dos problemas básicos da atual crise financeira. Com essa contundente crítica ao sistema corporativo, um dos mais conceituados pensadores da administração contemporânea, Henry Mintzberg. O pesquisador mostrou a importância das organizações se tornarem mais humanizadas e participativas. Professor de administração na McGill University, do Canadá, Mintzberg defende a idéia de que as organizações funcionam melhor quando reconhecem a importância das pessoas –funcionários, clientes e fornecedores– em lugar de apenas se verem como geradoras de valor aos acionistas. “Quando uma empresa começa a dispensar pessoas só porque não atingiu as cotas, está destruindo a comunidade”. Para o pesquisador, o modelo de administração em que os números ditam todas as ações e as estratégias cria empresas não-sustentáveis.

O professor defende que os atuais modelos de gestão devem ser repensados, a começar pela própria formação dos gestores. “Não se cria um administrador ou um líder na sala de aula”, diz. Sobre esse assunto, o pesquisador escreveu Managers Not MBAs, livro no qual critica a “fábrica” de administradores. Mintzberg considera que o ensino da administração enfatiza excessivamente a ciência (análises e ferramentas) e, muitas vezes, exalta a arrogância em nome da liderança. Com bom humor, resume sua idéia: “Bush fez MBA em Harvard”.

Para Mintzberg, “todas as verdades são meias verdades”. O pesquisador lembra que se repete exaustivamente que vivemos em uma época de grandes mudanças. Mas, há 50 anos, a percepção de transformações aceleradas era a mesma, como mostra o trecho de um artigo da revista Scientific American da época: “Mais foi feito (...) no curso dos últimos 50 anos da nossa vida do que ao longo de todo o resto da existência da espécie humana”. “Quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem iguais”, afirma o palestrante. Segundo ele, nós é que não notamos as coisas que não mudam.

Outra meia verdade difundida entre os profissionais é a visão que o administrador deve ficar no topo. “O ponto mais alto da pirâmide não é o lugar mais adequado para se gerenciar uma empresa. Lá, você está por fora e não tem a menor idéia do que está acontecendo por dentro”, acrescenta o professor. As organizações devem funcionar como um todo orgânico e não como partes independentes. Para ilustrar essa idéia, Mintzberg mostrou uma peça publicitária, com o título “Isto não é uma vaca”, na qual uma vaca era mostrada esquematicamente com suas divisões. Para Mintzberg, as empresas com freqüência adotam sistemas de gerenciamento no qual as áreas têm dificuldade em partilhar informações e trabalhar juntas. Uma vaca, porém, sem a ciência de suas partes, forma um conjunto harmônico, promovendo o bem-estar geral do organismo.

O pesquisador acredita que o melhor modelo de gerenciamento é aquele no qual o gestor se coloca no centro e estabelece comunicação entre todas as áreas, sendo um ponto de referência e ligação entre essas partes. Desse modo, pode catalisar mudanças importantes: “De toda parte emanam pequenas decisões que podem se tornar grandes estratégias”.

O especialista explica que a administração baseada unicamente nos resultados e na estratificação tende a criar uma visão danosa em relação às partes que compõem a organização. “Acho que classificar as pessoas como recursos humanos faz parte dessa perspectiva destrutiva. Se a empresa não consegue lucros tão bons, então é só despedir os ‘recursos humanos’”, exemplifica.

Administrar, para o palestrante, engloba três esferas: a arte, a ciência e a construção. Nesse triângulo, cada aspecto do administrador fica evidenciado. No primeiro caso, os insights e a imaginação. No segundo, há foco na análise e na comprovação sistemática. A construção, por fim, diz respeito à experiência e ao aprendizado prático.




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