quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O futuro da globalização - Joseph Stiglitz

Dono de uma das agendas mais disputadas do planeta, por ser um dos principais analistas da crise financeira mundial, Joseph Stiglitz. Além de ter a credencial de ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001, Stiglitz tem sido muito requisitado porque sempre se posicionou contra o neoliberalismo que, atualmente, está na berlinda. Conselheiro de Barack Obama, esse professor de economia da Columbia University foi um dos que anteviram o momento atual, uma crise que ele atribui, em grande parte, à falta de mecanismos regulatórios da economia. Ao público presente na Transamérica Expo Center, em São Paulo, falou do futuro e revelou por que está pessimista.

O grande desafio de cada país é gerenciar os riscos e adaptar idéias às circunstâncias específicas”, diz Stiglitz. Enquanto as oportunidades são diversas, as coisas ruins também cruzam fronteiras. “É o caso do problema das hipotecas, que foi exportado pelos EUA para o mundo, bem como do fundamentalismo de livre-mercado”, exemplifica. Para Stiglitz, o mais importante efeito da globalização foi o acesso às tecnologias e às idéias. Mesmo assim, não houve um estreitamento da lacuna entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos. “O crescimento dos Estados Unidos não foi compartilhado e grande parte do conhecimento foi para o topo da pirâmide. Mesmo lá a pobreza aumentou e a renda média caiu em relação há oito anos”.

Com firmeza, Stiglitz ressaltou o desafio imposto pelos acordos internacionais de comércio, que contribuem para a desigualdade, pois são reflexos de interesses de lobistas e não acordos de livre comércio na essência. Mesmo assim, países como Índia e China crescem, respectivamente, 8% e 10% ao ano e vêm reduzindo a sua distância dos países mais ricos. Para o economista, esses países são exemplos de sucesso da globalização. “O futuro é sombrio”, anuncia Stiglitz, ao falar sobre o momento atual da economia. Os números já mostram que um milhão de empregos foram perdidos nos Estados Unidos e as vendas estão em queda. “Se tudo for feito corretamente, a desaceleração pode durar de 12 a 18 meses. Mas não estou otimista de que tudo será feito corretamente. Até aqui, tem sido um desastre e a tempestade está apenas começando”, prevê.

O palestrante ressalta que a crise não é só econômica, mas social, porque as famílias norte-americanas colocaram todas as suas economias na compra de suas casas e agora estão devolvendo essas casas, estão sem emprego e, muitas, sem seguro-desemprego. Outro problema é que os norte-americanos não fizeram poupança, estimulados fortemente a consumir e a tomar empréstimos. “Os Estados Unidos têm vivido além de seus meios há muito tempo”, diz Stiglitz. Agora, diante do pessimismo, o crédito será arrochado. As famílias, então, começarão a poupar mais e consumir menos, o que pode ter conseqüências dramáticas. “O governo Bush não se preocupou com as pessoas”, afirma Stiglitz, que explica que o que vige em seu país é o assistencialismo corporativo. “Crê-se que as migalhas da ajuda às empresas ajudarão o restante da economia, mas isso nunca funcionou. Esta é a razão de eu estar tão pessimista”.

O setor privado também falhou, ao estimular a vida com base no cartão de crédito, ao alocar mal o capital e ao não pensar em produtos financeiros que ajudassem as famílias a gerenciar os riscos que assumiam. Além disso, há uma falta de transparência no sistema de incentivos ao setor financeiro, que remuneram o desempenho de curto prazo. Com a desconfiança disseminada, a economia se desacelera. “Com o plano de socorro, o governo virou acionista de um sistema bancário fracassado”. Além disso, a dívida interna americana é alta (passou de US$7,5 trilhões para US$10 trilhões), o que torna o cenário mais difícil.

Há algo de bom

“Mesmo países como o Brasil, que administraram bem a economia, já sentem o reflexo da crise”. Para Stiglitz, os preços das commodities e os investimentos estrangeiros serão negativamente impactados. “Mas estamos vendo mudanças no FMI e o Brasil tem um papel importante nesse processo. A desaceleração global vai estimular o debate econômico em âmbito mundial, o que é bom”. O economista aposta em novos padrões de comércio e de fluxo de capitais que trarão oportunidades de crescimento, bem como novas idéias. Para Stiglitz, é preciso que os países enxerguem que o “consenso de Washington” não funcionou e que o redesenho da governança pode encorajar a inovação, por meio da criação de mecanismos regulatórios e da proteção ao consumidor.









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