quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Emprestar para os pobres - Muhammad Yunus

Muhammad Yunus, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2006, por sua experiência com o Grameen Bank, revelou à audiência do segundo dia da ExpoManagement 2008 como o negócio social pode proporcionar boas oportunidades e contribuir para melhorar o mundo, tendo como ingrediente principal a confiança.

“Quantas crianças vocês ajudaram a sair da desnutrição neste ano?” Essa foi a pergunta de fechamento de ano feita ao CEO da empresa Grameen Danone, uma joint venture entre a multinacional francesa Danone e o Grameen Bank. A empresa fabrica iogurtes com maior quantidade de nutrientes, destinados a crianças pobres de Bangladesh, pois seu objetivo maior é o benefício social. Surpreendente? Não, em se tratando da gestão de Yunus, fundador e diretor do Grameen Bank.

O projeto de Yunus, de ter um banco exclusivamente voltado para os pobres, inverteu a lógica habitual do sistema financeiro, ao criar um sistema de crédito popular, sem exigência de nenhum aval, garantia ou fiança. A base do negócio é a confiança mútua. O banco espalhou-se por toda a Bangladesh e conta com 1.781 agências. A instituição tem cerca de 7,5 milhões de clientes, que pegam empréstimos de pequenas quantias (US$ 30,00, US$ 100,00, US$ 200,00...), girando um montante total de US$ 1 bilhão. Inadimplência? É irrisória: 99% dos empréstimos são pagos integralmente.

“Meu maior sonho é reduzir a pobreza das pessoas”, revela. Quando decidiu que assim o faria, ainda professor universitário, não tinha idéia do todo, mas imaginou que um primeiro passo seria apoiar pessoas que tinham dívidas a se livrarem de agiotas e seus juros extorsivos. Como os bancos tradicionais não emprestam aos pobres, ele mesmo fez um empréstimo, em seu nome, e repassou a um grupo de 42 pessoas. A idéia deu certo e, ante a contínua relutância dos bancos em emprestar dinheiro às pessoas, decidiu fundar um banco de microcrédito. Após ter sido tachado de maluco pelos órgãos governamentais e pelo Banco Central de Bangladesh, conseguiu a licença para abrir o banco, em 1976. De lá para cá, não parou de crescer. Na trajetória de sucesso de Grameen Bank, destacam-se os seguintes pontos, que consideram o perfil das famílias:

Confiança como a base de tudo. Não tem sentido exigir garantias ou avalista de pessoas desprovidas de posses.

Pensar o negócio não em termos apenas de lucratividade, mas como um negócio social. Os lucros são reinvestidos, e todos ganham. É a convicção da necessidade de ajudar a melhorar o mundo.

Foco nas mulheres. As mulheres têm o dom de administrar recursos escassos com maestria, transformando-o em benefício para as famílias, principalmente para os filhos. Atualmente, 98% dos clientes do banco são mulheres.

Aconselhamento financeiro. No início, as mulheres hesitavam em pegar empréstimos, pois alegavam não saber mexer com dinheiro. Com paciência e orientação, algumas tentaram, abriram seus negócios ou direcionaram seus gastos, e deu certo. Isso serviu de exemplo e estímulo a muitas outras. Cuidar da família. As mulheres tomadoras eram encorajadas a colocar os filhos na escola. Hoje, há uma geração de jovens que estão se formando, e que passaram também a ser clientes do Grameen Bank. Os alunos que se destacam recebem bolsas de estudos do banco. Com o tempo, novas empresas foram criadas pelo grupo (que tem em seu conselho de administração várias das mulheres que são clientes), como a Grameen Danone e uma estação de tratamento de água voltada aos camponeses pobres. O modelo foi exportado para muitos países. Até mesmo em Nova York, no bairro do Queens, existe uma instituição criada sob a inspiração do Grameen Bank.

Tudo o que fazemos é por convicção. Existe uma massa muito grande de pessoas que não têm oportunidades. O crédito tem que ser um direito universal. Eu gostaria de poder chegar a um futuro em que as pessoas só conhecessem pobres como uma peça de museu”, sintetiza Yunus.


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