terça-feira, 4 de novembro de 2008

Guerra dos Talentos



Todas as recentes publicações de negócios estamparam manchetes sobre o que está sendo chamada de a Guerra dos Talentos. Os textos falam de um grande aumento da demanda que não será atendida pela oferta prevista de profissionais, de variadas formações, nos próximos cinco anos.

Por outro lado, um grande contingente de jovens saídos das nossas faculdades de engenharia, administração, economia e direito (para citar apenas as mais tradicionais) está se vendo frente a frente com uma enorme dificuldade de encontrar emprego. Que guerra é essa então? Onde está ocorrendo essa demanda não atendida?

Quem é esse talento?

Vamos começar pela definição: "Talento é quem tem as competências para resolver problemas inéditos e complexos ou inventar novas soluções". Esta definição me parece a melhor. Foi dada pela revista The Economist em reportagem de capa publicada em outubro. Como você vê, o talento não precisa falar sete línguas, ter morado em quatro países e ter dois mestrados. Talento é aquele que faz diferença constante dentro e fora da organização. Esse talento tem uma biografia profissional e de vida que deve mostrar claramente os desafios que ele superou em sua história e que geraram as tais competências.

É claro que um bom curso de graduação numa faculdade de renome ajuda, que o domínio de pelo menos uma língua estrangeira é fundamental, mas o talento se diferencia mesmo é pela sua atitude frente ao mundo, por recusar um não com facilidade, por não se esconder dos desafios, por pensar nos outros e por ter um brilho desafiador no olhar. Além disso, o talento é um moderno "trabalhador do conhecimento".

Ele planeja sua vida e sua carreira sem ficar esperando que a organização onde trabalha faça isso, ele é fiel à cultura e à causa da empresa, e não ao emprego.

Ele compartilha e multiplica o seu conhecimento e suas relações em redes virtuais.

A Guerra dos Talentos vai acontecer porque é difícil identificá-los.

Os modelos tradicionais de seleção só servem para o trabalhador organizacional, que vive dentro de padrões desenhados no passado. Encontrar o talento significa ir mais fundo na entrevista, dar oportunidades, procurar quebrar paradigmas, olhar além do horizonte comum.

Os talentos estão à nossa volta, sua aparência é comum, seu jeito de ser é simples e por isso a grande guerra é por identificá-los, atraí-los e depois retê-los. Mas o preocupante é que muitos jovens são grandes talentos, mas, socializados pelas escolas com currículos tradicionais, se apresentam como trabalhadores organizacionais, e não como trabalhadores do conhecimento.

E o mercado está repleto dos organizacionais e muito carente dos de conhecimento.

Luiz Carlos de Queirós Cabrera é professor da Eaesp-FGV, diretor da PMC

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