sábado, 16 de outubro de 2010

Liderando a empresa familiar - Gustavo e Adriana Cisneros


Gustavo e Adriana Cisneros, à frente de um império de mídia, falaram sobre como o respeito aos valores e às tradições, além da liberdade para seguir os caminhos escolhidos, fazem da sucessão um sucesso em sua família.

A segunda apresentação da quarta-feira trouxe a experiência e a história do Cisneros, o conglomerado gigante de origem venezuelana que atua no ramo de comunicações e bebidas. A empresa passa por um processo de sucessão que envolve Gustavo Cisneros, presidente e membro da segunda geração, e sua filha Adriana Cisneros, que recentemente assumiu o posto de vice-presidente da companhia e se prepara ser a terceira geração no comando de dezenas de negócios e milhares de funcionários.

Fruto de uma história visionária e de sucesso, que começou 80 anos atrás quando Diego Cisneros entrou no ramos dos transportes e depois da televisão, a Cisneros Group of Companies tem toda a sua filosofia baseada nos valores da família. “Com meu pai, aprendi que a cultura corporativa precisa se basear em valores familiares fortes, com serviços de qualidade e com valor social. Aprendi que dever ser mantido o equilíbrio entre a audácia e a cautela, o controle centralizado e a autonomia operacional”, aponta Gustavo.

Ele entrou na empresa aos 25 anos em plena década de 1970, após seu pai passar por problemas de saúde, o que contrariou um pouco seus planos. Mesmo assim, fez os negócios prosperarem e encontrou seu lugar na estrutura empresarial. O que ocorre hoje é totalmente diferente: Adriana, a mais nova de seus três filhos, entra na sucessão por vocação.

Para a transição suave entre as gerações, é preciso que um membro da nova geração sinta o chamado para isso. Meus irmãos e eu tivemos a sorte de sermos criados por pais abertos ao nosso futuro e nossa individualidade. Passei muito tempo olhando, seguindo, aprendendo e observando”, conta Adriana.

Preparação necessária

Mesmo com a visão clara de que existe uma pessoa certa para a sucessão familiar, os Cisneros afirmam que é fundamental que exista um trabalho intenso para que as coisas corram bem. A família, mesmo que harmônica, pode ter dificuldades para separar as questões de negócios das pessoais e uma consultoria externa é o que recomendam, e usaram, para administrar a questão.

É sempre um pouco difícil essa mescla das duas relações, pois, depois que a família lhe aceita como líder, as relações deixam de ser só de irmão para irmão, ou de pai para filhos. Mas tento sempre separar essas coisas, quando o meu tempo é para minha vida pessoal, e temos conseguido”, afirma Adriana.

Para o processo de transição de Gustavo para Adriana, além de um conselho familiar composto por pais e filhos, o grupo montou um conselho que envolve executivos da empresa não relacionados à família. A ideia é que, juntos, eles possam fazer as transformações necessárias para o estilo de gestão e trabalho de Adriana.

Nós entendemos a importância da mudança de geração. A empresa não deve ser um museu das nossas memórias pessoais. Deve evoluir aproveitando sua herança genética. A nova geração deve ter direito de mudar, mantendo o respeito aos preceitos dos ancestrais. No nosso caso são iniciativa empreendedora, ênfase em produtos de qualidade e serviço, respeito familiar e dedicação à comunidade em que estamos inseridos”, diz Gustavo sobre sua atitude frente à sucessão.

Em tempos de crise econômica, Gustavo e Adriana citaram as vantagens de ser uma empresa familiar e dinâmica. O grupo, que fez muitos negócios lucrativos comprando e vendendo redes de televisão e artigos esportivos nos últimos três anos, partilha essa característica empreendedora com grupos de capital aberto, mas se valem da vantagem de poder ter mais tempo para avaliar e realizar negócios.

Nós todos que estamos aqui, como gestores de uma empresa familiar, temos uma noção diferente do tempo, e é isso o que temos de melhor nesses tempos: nossa possibilidade de ter uma estratégia de longo prazo”.

Compartilhando experiências

A seção de perguntas para a família Cisneros foi conduzida por John Davis e José Salib Neto, CKO da HSM, e aprofundou temas já levantados durante a apresentação sobre a experiência na condução da sucessão da empresa.

John Davis – Adriana, como a próxima geração se beneficiará do trabalho e das mudanças que você está fazendo?

Organizar a família em termos de sucessão. Eu precisava ser pró-ativa, mas foi crucial trazer alguém de fora para iniciar esse trabalho que pode ser complicado por ter pessoas da família e emoções diferentes. Essa pessoa externa tem como neutralizar emoções e colocar tudo nos trilhos.

E é preciso saber a diferença entre ser proprietário da empresa e ser funcionário da empresa. Eu recomendo às próximas gerações que voltem aos bancos das faculdades. Há cursos especiais para pessoas como nós, de empresas familiares, em Harvard, por exemplo.

John Davis – Gustavo, qual o seu conselho para a geração mais jovem?

Cada geração é diferente. Eu fui criado para dizer “sim, papai” e ela já foi educada para perguntar “por que, papai?”. Dar conselhos é fácil. Acho que passar tempo na empresa é importante. Ir um dia durante as férias de verão, ajudar em algo, ir de vez em quando, para conhecer aquilo. Mas tem de encontrar o seu norte, pois trabalhar na empresa de sua família é um trabalho de 24 horas por sete dias da semana, e sempre há reclamações. É bom identificar se quer ser o proprietário ou o executivo. Se quer ser o proprietário apenas, estude, procure entender a empresa e tal, mas não entre na parte operacional, se não quiser mesmo, pois se trabalha demais.

José Salib Neto – Adriana, como separar negócios de família nos almoços de domingo?

É difícil. Quando se é finalmente aceita como a líder, eles não pensam mais em você só como uma pessoa da família. Mas meu pai sempre disse: “Defenda seu fim de semana”.



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