terça-feira, 10 de junho de 2008

Microtendências - Mark Penn

Olhe ao seu redor, olhe o presente, olhe os números e você verá as microtendências que estão aí e vão dominar o mundo”, aconselhou Mark Penn e iniciou sua palestra comentando sobre o otimismo que costumeiramente destaca os brasileiros, quando lhes perguntam como vai a situação do País. “Diferentemente de em outros países, no Brasil, as notícias sempre são boas.

No entanto, as coisas aqui passaram a florescer de fato”. Segundo o palestrante, o Brasil está experimentando muitas das tendências decorrentes do crescimento da classe média. “Surpreendi-me ao ver que as coisas estão indo bem, mudando profundamente”, disse.

Penn, especialista em pesquisas de mercado, enriqueceu sua palestra com exemplos que mostram como as microtendências são importantes. Para dar o tom de sua apresentação, citou um erro do passado: “Pensávamos que, à medida que a sociedade de massas aumentasse, seríamos padronizados em rosto e cor. Porém, o que vimos foi que mais individualista ela se tornou.” Para ele, a era das megatendências acabou. Os pequenos grupos tornaram-se poderosos e mudam a face da sociedade tal qual a conhecemos. “A maioria das previsões para o futuro são erradas, porque é necessário entender muito melhor o presente”, esclareceu.

Economia Starbucks versus economia Ford

Penn recomenda que cada empresário se pergunte: “Estou na Economia Ford ou na linha da Starbucks?”. Ele recorda: “A economia Ford baseava-se na pseudo-escolha que você teria de comprar carro de qualquer cor, desde que fosse preta”. A Starbucks, segundo ele, é o modelo oposto, no qual o consumidor pode ter o que quiser, desde que pague a conta. “Você pode ter café com conhaque, café com leite, café descafeinado. São diversas opções para uma xícara de café.”

De acordo com Penn, isso acontece por três principais razões:
1. a internet muda a maneira pela qual as pessoas vendem, ao reunir grupos de pessoas dispersas geograficamente;
2. o custo da produção de bens personalizados reduziu-se, pois a manufatura está mais eficiente e tornou-se mais econômico produzir bens customizados;
3. os indivíduos determinaram que querem ser diferentes – vestir-se, agir, viver, consumir diferentemente.

O especialista mencionou que o caso do i-pod da Apple é emblemático como exemplo de mudança, porque se trata do sonho do produto moderno: ser personalizado e, ao mesmo tempo, produzido de modo totalmente padronizado, pois todo o trabalho da customização fica a critério do consumidor.

Pequenos, mas poderosos

Grupos pequenos podem revolucionar um negócio e as estatísticas do Brasil mostram o desenvolvimento de novos mercados. “É uma economia de um trilhão de dólares, baseada em coisas que, antes, eram impensáveis. Os idosos são em maior número, há um crescimento grande no número de consumidores, casais adiam a chegada dos filhos e tornam-se uma classe média que se expande, 45% das mulheres trabalham. Há uma explosão de microtendências no Brasil.”

Penn alerta: “A sociedade é uma massa enorme de contradições. Para cada tendência, há uma contra-tendência”. Para cada grupo mais religioso, há um grupo que fala mais de ciência, por exemplo. O que acontece é que esses extremos tornam-se grandes o suficiente para se tornarem mercados.

Para o estudioso, as sociedades que privilegiam as microtendências são aquelas que privilegiam a individualidade. “Os marketeiros devem pensar em como produzir para o consumidor que quer customizar seu produto ou fazer como a Starbucks, que customiza para ele”, recomenda Penn.

Confira, a seguir, alguns dos exemplos que fizeram parte da exposição de Mark Penn e que constam de seu livro Microtrends: the small forces behind tomorrow´s big changes. Todos eles apontam para mudanças em estilos de vida.

A família mudou

“Nos Estados Unidos, as mulheres solteiras passaram de 30 milhões para 55 milhões, ou seja, aumentou o número de mulheres que lideram a estrutura familiar”, diz Penn.

O palestrante salienta que, naquele país, existem mais nascimentos de meninos do que de meninas, mas, em torno da idade de 20 anos, há mais homens que morrem do que mulheres. No entanto, há duas vezes mais homossexuais masculinos do que entre as mulheres, o que dificulta a vida amorosa das mulheres heterossexuais. Ainda sobre as mudanças entre as mulheres, o especialista fala: “À medida que vemos mais mulheres bem-sucedidas na força de trabalho, vemos o surgimento da ‘mulher-pantera’. Com isso, cresce o número de casais em que a mulher é cerca de cinco anos mais velha que o homem”.

Os jovens casais atrasam o nascimento do seu primeiro filho. Mas muitos optam por ter bichos de estimação, que são muito mimados em petshops, hotéis e até padarias especiais para os animais. “Os bichos passaram a ser a família em determinados grupos e consomem vorazmente sua renda disponível”, ressaltou Penn.

Quanto aos pais de segunda viagem (pessoas que se tornam pais e torno dos 45 anos), o que acontece, segundo as pesquisas de Penn, é que a experiência da paternidade torna-se bem diferente da dos pais jovens. É diferente, também, a experiência familiar de consumo. “Está aí um novo grupo, com novo estilo de vida. Assim, o que buscamos são as mudanças no estilo de vida”, arremata.

Ao mesmo tempo, os pais (do sexo masculino) passam mais tempo com os filhos nos Estados Unidos do que passavam antes, porque as mães transferiram parte de sua responsabilidade ao marido. Esses pais se consideram negligenciados pelo mercado.

Identificou-se, também, a tendência de os casais morarem em cidades distintas durante um determinado período de tempo, por razões de trabalho ou estudo. Isso significa um grande mercado para vídeo-conferência, por exemplo.

Casamentos entre pessoas que se conheceram pela internet são um outro caso de microtendência de relevo. O casamento surge a partir de um grupo social muito menos restrito do que antes. “Agora, há um mundo de escolhas, inclusive sites especializados em encontros. Tal fenômeno está quebrando as barreiras convencionais de classes sociais e distância”, explicou o consultor. “72% das pessoas que se casaram pela internet, segundo nossas pesquisas, estão extremamente felizes, apesar do preconceito que ainda existe quanto a esse tipo de encontro”, salientou Penn.

A relação com o trabalho gera novas demandas

A respeito do tempo de vida economicamente ativa das pessoas, Penn mencionou que o esperado era que se trabalhasse menos, quanto mais afluente se tornasse a sociedade. O que se vê, hoje, é que as pessoas querem trabalhar mais, seja porque gostam do trabalho na economia do conhecimento, seja porque limitações de renda as impede de se aposentar.

Penn afirmou que o crescimento da população idosa que tem tempo, energia e renda, é notável. “Se a geração mais velha resolvesse trabalhar um ano a mais, resolveria muitos problemas da previdência social”, apontou o conferencista, que informou que metade dos americanos de hoje não vai se aposentar. Uma parte deles, porque não tem dinheiro; outra parte, porque quer continuar trabalhando. “As pessoas estão escolhendo o trabalho antes do prazer. É preciso reavaliar como será a próxima geração de idosos. As implicações disso são enormes.”

Dobrou, nos Estados Unidos, o número das pessoas que viajam para chegar ao trabalho. Cresce, assim, o mercado para livros em áudio, porta-copos ou alimentos para serem ingeridos no automóvel. Essas pessoas constituem o grupo a ser mais afetado pelo aumento no preço da gasolina. Penn afirmou que, para poupar dinheiro, esse grupo terá que usar carros híbridos ou, talvez, nem ir ao trabalho. “Poderão trabalhar em casa mesmo, usando recursos de contato via vídeo, por exemplo”, diz Penn, que explicou que, da mesma maneira como aumenta grandemente o número de pessoas que trabalham em casa, também aumenta o número de pequenos estabelecimentos, fruto do empreendedorismo dessas pessoas que não querem mais trabalhar convencionalmente.

O setor que mais cresce nos Estados Unidos é o de negócios sem fins lucrativos. O charme do mundo comercial já não é tão atraente. Os jovens buscam um campo que seja empolgante, baseados no ideal de melhorar o mundo.

Preocupações com a saúde afetam consumo

Um exemplo de como as preocupações com saúde impactam o consumo é o aumento no consumo de água pelos americanos, o que cria problemas para a indústria dos refrigerantes. Por outro lado, as pessoas consomem mais cafeína. Assim, nos Estados Unidos, vendem-se mais bebidas enlatadas à base de cafeína.

“Nunca vimos uma população tão obesa, nem tanta gente morrendo de fome para viver mais”, brincou o palestrante. Segundo ele, um número cada vez maior de pessoas, em nome da longevidade, está em busca de uma dieta de menos de 1.000 calorias por dia. À medida que as pessoas não estarão nos restaurantes, portanto, precisarão de opções de coisas a fazer que não estejam relacionadas ao consumo de alimentos.

“Se você é médico”, comentou Penn, “observe que há uma nova geração de pacientes. São aqueles que pesquisam na internet e lhe dizem o que fazer e até que remédio prescrever”. Com isso, muitas farmácias já vendem mais remédios para quem se auto-medica, equivocadamente.

Na esteira da preocupação com a saúde, observou-se que, no Brasil, o mercado de filtro solar aumentou 50% nos últimos anos. “Para cada pessoa que ama o sol, existe um que odeia o sol. Isso tem impacto também sobre o setor de turismo, que pode precisar fazer o seguro do filtro-solar. Consomem-se mais chapéus, roupas de manga longa e roupas em tecidos com filtro-solar”, exemplificou o palestrante.

A relação com a tecnologia pode ser contraditória

Mais jovens estão entrando nos negócios. “Eu mesmo entrei no mercado aos 13 anos, vendendo selos. Hoje, isso é rotina no e-bay”, declarou Penn. De acordo com pesquisas, cerca de 1,6 milhão de adolescentes americanos estão ganhando dinheiro na internet. Como contra-tendência, há um crescente número de jovens que tricotam, numa busca por fazer coisas com as mãos, que pode ser uma maneira de escapar de um mundo em que tudo é rápido. “Vemos, também, pessoas se afastando da tecnologia e buscando sossego”, alerta o consultor.

O palestrante destacou que os chamados social geeks são os consumidores de tecnologia que têm vida social ativa (diferentemente do que ocorria no passado, quando os adeptos da tecnologia escondiam-se). “A tecnologia, portanto, também deve estar atenta às mudanças no estilo de vida”, explicou Penn.

Ele apontou que as mulheres passaram a ser grandes consumidoras de tecnologia e querem design e facilidade de uso. “As mulheres também compram muitos carros. Assim, os anúncios têm que ser voltados a elas, bem como os modelos de automóveis.”



Nenhum comentário: